Adoro ler, se pudesse devorava um livro por dia. Os livros sempre foram uma das minhas grandes paixões e posso considerar-me uma privilegiada porque tive oportunidade de ler centenas. Por ser uma apaixonada por livros e viagens (imaginárias ou não) este artigo de Pedro B. exclusivo para o Bigviagem fez-me viajar em todos os sentidos. Tenho certeza de que vocês vão adorar tanto quanto eu! 😉
E se pudéssemos fazer turismo imaginário?
No último artigo que vos escrevi, falei-vos de novas formas de turismo e das motivações que levam a materialização destes novos conceitos. O desafio que vos lanço hoje também tem a ver com novas formas de turismo, mas vamos deixar o mundo físico e vamos viajar um pouco na imaginação e no verosímil. Proponho-vos lugares imaginados, que não existem, mas deviam existir, que embora não ocupem qualquer metro quadrado, povoam um grande número dos nossos neurónios, das nossas memórias e, porque não, das nossas recordações. São lugares fabulosos, imaginados por mentes prodigiosas que tiveram a coragem e a destreza de nos oferecer não só novos locais, mas também novos hábitos e novas perspetivas que nos ajudam a “ginasticar” a nossa imaginação e a libertar-nos do nosso quotidiano e do nosso mundo físico.
As formas de turismo estão fortemente ancoradas numa “fisicalidade” inultrapassável que tem implicações que determinam as nossas possibilidades enquanto turistas. Para visitar um determinado local necessito, fundamentalmente, de ter tempo e dinheiro. O equilíbrio entre estes dois factores determinam, não só, os destinos que escolho, como também toda a construção mental à volta do próprio ato de viajar.
São condicionalismos naturais e que temos de saber viver com eles. Mas felizmente, existe um mundo livre de “fisicalidade”, onde o tempo e o dinheiro são fatores muito pouco determinantes e as suas portas de entrada estão acessíveis a todos – a verdadeira democratização do turismo. Esse mundo está contido em milhares de páginas escritas por autores munidos de uma capacidade de imaginação extraordinária e capaz de transformar o nosso sofá em aviões ou naves supersónicas que nos levam para ambientes verdadeiramente únicos. É uma espécie de turismo imaginário, de destinos verosímeis que, gostemos ou odiemos, obrigam-nos a um “jogging” mental e imaginativo de um valor incalculável. Imaginem-vos privados destes destinos em criança – que seria da vossa infância, e da vossa vida, sem a terra do nunca do Peter Pan ou o país das Maravilhas de Alice?
Hoje trago-vos 8 dos meus destinos de turismo imaginário favoritos. Eles povoaram a minha imaginação, principalmente em criança, mas também em adulto. Ajudaram-me a olhar para a vida de uma forma diferente e consolaram-me muitas vezes em alturas menos fáceis da minha vida. São apenas 8 exemplos dos muitos que, felizmente, estão à nossa disposição, e, desde já, faço-vos um convite a comentá-los e partilhar com os outros leitores todas as vossas impressões e sensações quando viajaram até eles e a sugerir outros destinos imaginários que fizeram parte da vossa vida.
Fantasia – Do livro história interminável de Michael Ende.
Bastian Baltazar Bux após a morte da sua mãe, encontra um livro num antiquário chamado História Interminável. Rouba o livro e refugia-se no sótão da sua escola para se dedicar a lê-lo. Descobre o mundo de Fantasia, um mundo alternativo que está a ser consumido pelo “nada”, porque as crianças acreditam cada vez menos nas histórias de encantar e por isso a fantasia faz cada vez menos sentido e está devotada ao esquecimento e à morte. Bastian vai descobrir que só ele poderá salvar Fantasia e entra dentro do livro numa aventura de proporções épicas. Um livro absolutamente extraordinário e de uma imaginação galopante e viciante.
MÜ de Hugo Pratt
Corto Maltese, o marinheiro errante criado pelo Veneziano Hugo Pratt é, para mim, a tradução perfeita do viajante sem pátria que vagueia pelos 5 continentes à procura do significado da vida e da própria existência. Corto Maltese passeou-se pela América do Sul, pela Europa, por África e pela Ásia, algures num tempo situado entre as duas grandes guerras. O seu criador, dono de um traço único e hipnotizante ofereceu-nos todo um universo povoado de personagens fascinantes e ambientes mágicos, crenças perdidas e utopias só possíveis nas suas vinhetas. A última viagem de Corto Maltese foi ao continente perdido de MU, uma terra sem geografia, povoada de lendas e mistérios dos 4 cantos do mundo e acompanhadas pela maior parte das fascinantes personagens que Corto Maltese foi encontrando ao longo de todas as suas anteriores aventuras.
HAV de Jan Morris
Jan Morris ofereceu-nos a cidade de HAV, situada algures na Europa, na encruzilhada de várias civilizações e refém da sua condição de refúgio de grandes personagens do século XX. Correm rumores que HAV foi edificada em cima da antiga cidade de Tróia, capturada e saqueada pelos cruzados, reconquistada por Saladim e posteriormente povoada por Italianos, Gregos, Árabes, Alemães, Russos e por muitas outras nacionalidades e até pelos últimos trogloditas conhecidos. Serviu de porto de abrigo a Richard Burton, Chopin, Tolstoy, Grace Kelly, Lady Di e crê-se que também Hitler pernoitou por lá. Jan Morris deambula por esta cidade imaginária do mediterrâneo oriental com uma elegância incomum e uma verosimilhança capaz de nos enfeitiçar e hipnotizar com consequências irreparáveis para a nossa imaginação.
WESTEROS de George R. R. Martin
Westeros é o continente que dá abrigo aos 7 reinos das crónicas do Gelo e do Fogo do ficcionista norte americano George R. R. Martin. Adaptada para televisão com o título “A Guerra dos Tronos” (título do primeiro volume da saga) foi um estrondoso sucesso mundial e, seguramente, já ocupa um lugar de grande destaque entre as grandes obras de ficção científica e fantasia. Terra mágica, de personagens ambíguas, dragões devastadores e verões e invernos que duram vários anos, Martin construiu um ambiente inspirado na idade média europeia, com pormenores verdadeiramente surpreendentes. As personagens principais são mortas sem piedade, os bons afinal são maus e vice-versa, aliás como na vida real. A crueza das suas descrições e a liberdade na exploração dos sentimentos e das ações das personagens, fazem desta saga uma formidável viagem a mundos que provavelmente já existiram, mas que, felizmente, acabaram por se extinguir, ficando apenas como uma recordação da nossa memoria coletiva.
TERRA MÉDIA de J.R.R. Tolkien
E Tolkien criou a Terra Média para que todos nós pudéssemos desfrutar das aventuras do senhor dos Anéis. Pouco falta para que esta extraordinária criação seja centenária e a sua construção é tão sólida e consistente que continua a encantar pessoas em todo o mundo. Quem quer eliminar os Elfos e os Hobbits das suas vidas? Quem é louco o suficiente para não sucumbir a esta magnífica viagem entre terras de fogo, aranhas gigantes e seres encantados? Todo um universo foi criado a partir desta poderosa obra de ficção e toda uma geração foi influenciada pela imaginação e capacidade fraturante deste criador de mundos. Depois da criação da Terra Média tudo mudou… E ainda bem!
GOTHAM CITY de Bob Kane e Bill Fringer
Emulação da cidade de Nova York, Gotham é uma cidade povoada de vilões e pesadelos negros e tenebrosos que nós bem nos esforçamos por contê-los na nossa imaginação, mas que sabemos que poderão estar mesmo ao virar da próxima esquina. Terra de super-vilões e lar do Batman, único super-herói sem super-poderes, Gotham é como uma madrasta que apesar de má e cruel, exerce sobre nós um fascínio indecifrável. Gotham está bem guardada por Batman, mas isso não é suficiente. Gotham é bonita vista de longe, preferencialmente com o foco de luz do morcego bem visível.
SPRINGFIELD de Matt Groening
Os Simpsons vivem em Springfield, uma pequena cidade situada algures nos Estados Unidos e facilmente reconhecível pela sua central nuclear, pelo seu letreiro semelhante ao de Hollywood e, claro, pelo bar do Moe. Quem não se divertiu com estas incomparáveis personagens criadas por Matt Groening, e que nos têm acompanhado ao longo de mais de 20 anos? Ainda hoje, Bart, Hommer, Lisa e companhia continuam bem vivos e com uma vitalidade anormal para a sua idade. E ainda bem. Os Simpsons conseguiram uma grande proeza de se imiscuírem na nossa vida e na nossa cultura ao longo de várias gerações. Se houvessem viagens para Springfield, certamente iriam encontrar-me lá a beber uma cerveja com o Hommer no bar do Moe enquanto os meus filhos estariam a andar de skate com o Bart e a tocar trompete com a Lisa.
NEO TOKYO de Katsuhiro Otomo
Neo Tokyo é uma enorme cidade construída em cima de uma ilha artificial na baía de Tóquio, após o fim da terceira guerra mundial, que eclodiu em 1988 após uma enorme explosão que destruiu totalmente a cidade de Tóquio. O responsável por esta explosão foi uma criança com poderes psíquicos incontroláveis e que, para segurança da humanidade que resta, encontra-se em total reclusão, algures em Neo Tokyo. Esta criança é Akira e o seu criador proporciona-nos uma distopia poderosa e impressionante ao longo de um épico de banda desenhada com mais de 2.000 páginas. Um local feio, sujo, cruel e miserável, mas com uma capacidade invulgar de nos impressionar e fazer com que nunca mais voltemos lá. Esta é uma viagem que não queremos que se torne realidade.
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