Para vocês, mais um artigo do nosso colaborador Pedro B. que aborda o tema “A reinvenção do turismo“, um ponto de vista perspicaz que teve origem numa conversa sobre o lançamento de um álbum de um músico conhecido.
Como você irá planejar sua próxima viagem? Com seu agente de turismo ou pela internet? Você ainda se lembra como fazia um plano de viagem antes de surgir as facilidades da internet?
A reinvenção do turismo
O outro dia em conversa com um músico bem conhecido da nossa praça, perguntei-lhe se ele já tinha lançado o seu último álbum. Disse-me que sim, que já tinha lançado há cerca de um mês. Perguntei-lhe de seguida onde o podia comprar, porque nas minhas incursões semanais pelas fnac’s ainda não o tinha encontrado e o que já tinha ouvido na rádio tinha-me aberto o apetite. Respondeu-me que não o encontraria em nenhuma loja de discos e que o tinha de comprar online.
A minha reação foi de alguma consternação, pois refletida naquela obrigação de compra, estava a incapacidade do meu amigo editar um suporte físico (como o costumava fazer nos seus álbuns anteriores) e ainda assegurar uma distribuição razoável para, pelos menos, pagar o seu investimento. Não lhe falei sequer da promoção do seu disco.
Os tempos mudaram, respondeu-me ele com uma inquietante tranquilidade e hoje os discos editados servem apenas como bandeira promocional. Não é uma fonte de rendimento e na verdade só para muito poucos é que o foi. Um disco com sucesso, na ótica do artista contemporâneo, é aquele cujas vendas conseguem pagar o seu investimento em estúdio e edição. Repara bem, disse-me ele, em estúdio e em edição, não as horas que gastamos na criação dos temas e nos correspondentes ensaios. Os discos eram e são negócio para as editoras. E até certo ponto está certo, pois elas asseguram a sua promoção e distribuição que não é trabalho fácil. Mas, para os artistas e criadores, pouco sobra e se estamos a falar em início de carreira, então o cenário é próximo da desolação.
Mas foi o modelo de negócio que foi criado e até há muito pouco tempo era o único que tínhamos à nossa disposição para fazer chegar o nosso trabalho à praça pública. Hoje esse modelo subsiste, com alguns ajustamentos. Um contrato com uma editora obriga a muito mais do que apenas ter a obrigação de editar um disco de x em x tempo, pois a indústria encontra-se numa grave crise desde há uns anos.
Mas não quero entrar por aí, pois seria um tema que daria “pano para mangas”. Quero reter-me, algures no meio da nossa conversa animada, numa frase que o meu amigo lançou e que me chamou a atenção e de alguma forma me obrigou a repensar como vejo e como interpreto os novos meios de comunicação ou, de uma forma mais corrente, os media sociais.
Era qualquer coisa como: “O ato de venda através do site é um momento profundamente intimista. Eu sei quem é que me está a comprar o álbum, consigo falar com ele, ver a sua cara, emergir numa parte da sua vida através das redes sociais e ainda ouço o som de caixa registadora, emitido pelo meu computador, quando uma transação é efetuada”.
Nunca tinha visto a coisa assim. Sempre percecionei os novos canais web de distribuição como uma alternativa aos canais clássicos de distribuição, uma espécie plano B para quem não consegui singrar no sistema. Mas esta reflexão do meu amigo destruiu este edifício dogmático que construi à volta da minha profunda e genuína apreensão e desconfiança que sinto por estes meios sociais.
Eu sou da geração que viu nascer a internet e a world wide web. Ainda assisti ao nascimento dos telemóveis, do multibanco e do CD, e vi na primeira fila como estas e outras brilhantes invenções mudaram e moldaram, para sempre, a nossa vida. Sou o que se chama um “Imigrante Digital”, pois passei a ter novas ferramentas à disposição para melhorar e potenciar a minha vida. O meu amigo músico tem menos 20 anos do que eu. Para ele os discos de vinil são objetos “vintage”, fotografar com filme fotográfico é um “statement” e os blusões de cabedal com chumaços nos ombros, dos anos 80, são peças próximas da arte. Ele é um “Nativo Digital”, que se pode definir como alguém que nasceu e cresceu com as tecnologias digitais.
A sua perceção do mundo e da sociedade é tão diferente da minha que arrepia. Como Imigrante Digital a minha luta é integrar-me nas novas regras e a cada avanço que faço, a cada conquista que realizo, deixo um rasto de horas a tentar perceber como estas novas coisas funcionam. E só depois aplico-as a meu favor. O meu amigo e todos os nativos digitais não necessitam deste esforço. O seu ponto de partida é o meu ponto de chegada. Toda a estruturação de pensamento parte de uma base adquirida e natural, a qual eu sonho apenas em atingi-la. Para ele, o meio digital não é nada de extraordinário. Ele existe e está à nossa disposição e na verdade não é nada que não apenas mais um meio para atingir um determinado objetivo.
A minha preocupação com os jovens que trocam o campo de futebol lá da rua pelo facebook é, na verdade, uma preocupação desnecessária, exagerada e irrealista. O campo de futebol ainda existe e o facebook também. Porque que é que se há de optar por apenas um deles? Porque não tirar proveito dos dois? É certo que existe sempre um exagero no início, mas as redes sociais vieram para ficar e, pasmem-se os imigrantes digitais, funcionam e funcionam de formas que nós nunca vamos entender porque, simplesmente, o nosso filtro de perceção é tão antiquado que se não tivermos a capacidade de o desligar, corremos o risco de nos tornarmos infelizes e indigentes até ao fim dos nossos dias.
O meu amigo tem razão. Os níveis e intimidade que ele conseguiu transportar para o seu modo de vida, são tão insuportavelmente bons e eficazes que só me resta invejá-lo. Eu também quero um modo de vida assim. Provavelmente nunca o conseguirei, mas nada me impede de tentar.
Mas o que tudo isto tem a ver com viagens e com o turismo? Tem tudo a ver. A viagem estendeu-se e deixou de estar balizada pelos aeroportos de origem e destino. O espaço-tempo da viagem passou a ser ilimitado, ubíquo se assim o desejarmos. E o contrário também. Já não estou sujeito às apreciações de um agente de viagens sobre um destino ou aos textos inócuos e descaracterizados das brochuras e folhetos de viagens. Posso preparar a minha viagem no Tripadvisor, Google maps, street viewer e Google earth. Posso contatar diretamente com populações locais, recolher opiniões em tempo real e vivenciar locais através de fotografias e filmes de outros que já passaram por lá. Posso prolongar a minha viagem muito além da data prevista de chegada, assistindo “ao vivo e a cores” tudo os que os meus novos amigos estão a fazer no momento.
O turismo é, e tem de ser, muito mais do que uma viagem. Fazer turismo é um ponto de partida para uma vida mais sustentável, mais equilibrada, mais útil, mais intimista, como diria o meu amigo. A imersão neste novo mundo passará por uma capacidade de conhecer, perceber e intervir de uma forma eficaz, necessária, mas também prazenteira.
A intimidade ganhou novos contornos, novas possibilidades. E nós estamos aqui para aproveitar e desfrutar.
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