Quando você pensa em turismo ou conhecer uma determinada cidade, quais são as suas expectativas? O que espera encontrar? Efetivamente o que você busca? Esta pergunta é muito importante fazer-se antes de uma viagem. Abaixo temos mais um artigo colaboração de Pedro B. que como sempre nos põe a refletir sobre um tema atual e deveras importante. Vamos a ele?
A cidade como bem de consumo
A afirmação da cidade e do homem urbano é um fenómeno consolidado no século XXI. O grande protagonismo das cidades e do modo de vida urbano é um processo que tem início em tempos imemoriais, no entanto, o surgimento das grandes metrópoles urbanas e o consequente estabelecimento de um modo de vida urbano próprio, independente e sustentável teve o seu grande “boom” logo após o fim da segunda guerra mundial. Este fenómeno coincide com a criação da sociedades de consumo que desde aí vem modelando o nosso modo de vida e estabelecendo novos padrões definidores do nosso modo de vida contemporâneo, padrões estes que se estendem por vários domínios, desde o económico, ao cultural e artístico, ao desportivo e educacional, etc.
Já tendo passado mais de uma década desde que se iniciou o novo século, tempo suficiente para que todas as dúvidas sobre o século que estamos a viver se tenham dissipado, creio que estamos a assistir a uma nova (r)evolução(?) da nossa paisagem urbana. As cidades, conotadas como pólos ativos de desenvolvimento e motores de economias pujantes e definidoras, estão a transformar-se em pólos festivos, onde o imperativo do espetáculo e do divertimento sobrepõe-se a todos os outros e de alguma forma molda a sua função e o seu estatuto.
A fruição do prazer e da diversão por quem visita uma determinada cidade tornou-se o grande objetivo de quem as gere, relegando para categorias secundárias outros objetivos que dávamos como imutáveis. A cidade está a tornar-se “não-produtiva” onde a lógica do parque de diversões e do shopping center impera e onde os seus habitantes têm de se sujeitar aos ritmos e modos de vida de quem os visita e usufrui momentaneamente.
Vários sintomas evidentes caracterizam este estado de que vos falo. Os bairros antigos são requalificados e os seus edifícios remodelados ao invés de se investir em nova construção, terrenos baldios são recuperados e transformados em espaços culturais e comerciais, antigos mosteiros e fábricas desativadas são transformados em hotéis de charme e centros comerciais, edifícios e avenidas icónicas das grandes cidades convertidas em lojas de luxo pensadas para abordar os consumidores em todas as suas dimensões sensoriais e físicas. O “entertainement” das massas impera e reduz a pó preocupações de outrora relacionados com a vivência da sua população ativa.
As cidades assumem-se como manifestações espetaculares onde o lúdico impera e tudo se faz para transmitir um ambiente de encantamento e de afastamento do “mundo real”. Julgo que a palavra “dramatização” traduz bem tudo aquilo que disse atrás. O espaço público dá lugar ao espaço comercial e molda a face da cidade. São as novas cidades do século XXI.
Entra agora a “moral a história”. O que é que isto significa? Isto é bom para o turismo? É bom para as pessoas? Ou pelo contrário, caminhamos num rumo perigoso que pode levar ao desaparecimento da cidade?
Creio que se trata de uma evolução. A globalização deixou de ser uma ideia, um sonho e é real, e isto é um sintoma da sua prática ao longo deste início do século XXI. As cidades são repositórios de cultura e a crescente procura das suas vivencias, memórias e passados só pode ser salutar para quem gosta de viajar. As cidades passam a organizar-se em torno da nossa satisfação enquanto turistas, enquanto curiosos, e adaptam ao seu ritmo às nossas expetativas. Mas a perspetiva da cidade se transformar num núcleo “não produtivo” julgo ser descaracterizadora e “artificializante”. Creio que a longo prazo não será benéfico para ninguém e eventualmente poderá levar a que repensemos a cidade de uma nova forma, desta vez levando em conta todas as variáveis que a equação urbana deverá conter para ser sustentável e, acima de tudo, gratificante e generosa para quem lá vive. Será um voltar ao “ponto zero”, um reinício com todas as coisas boas e más que poderá trazer, mas será sempre um processo custoso e doloroso até atingir o seu equilíbrio.
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